GÊNEROS
LITERÁRIOS
Forma e conteúdo: Todo texto literário
apresenta dois planos essenciais: o plano da forma e do conteúdo. No
primeiro, temos os aspectos que envolvem a construção do texto, ou seja, o
vocabulário, a sintaxe, a sonoridade, as imagens, a disposição das palavras no
papel; no segundo, temos as ideias. Portanto, enquanto a forma envolve os
aspectos linguísticos e gráficos do texto, o conteúdo envolve os significados
do texto e suas relações com o mundo. Apesar dessa divisão, ambos os planos atuam
juntos no texto literário, e uma alteração num dos planos implica alteração no
outro.
De
acordo com a forma que os textos podem assumir, eles costumam ser organizados
em dois grandes grupos: os textos em
verso e os textos em prosa.
Além
dessa divisão, há outras classificações que procuram organizar e hierarquizar
os textos literários. A mais antiga delas, e que ainda hoje é considerada,
baseia-se na obra Arte Poética, de
Aristóteles. De acordo com essa concepção
clássica, há três gêneros literários: lírico,
épico e dramático.
·
Gênero Lírico: É certo tipo de
texto no qual um eu-lírico (a voz que
fala no poema, que nem sempre corresponde à do autor) exprime suas emoções,
ideias e impressões em face do mundo exterior. Normalmente, os pronomes e os
verbos estão em primeira pessoa e há o predomínio da função emotiva da
linguagem. Observe o lirismo destes versos:
"Ardo em desejo na tarde que arde!
Oh, como é belo dentro de mim
Teu corpo de ouro no fim de tarde:
Teu corpo que arde dentro de mim
Que ardo contigo no fim da tarde"
(Manuel Bandeira)
Oh, como é belo dentro de mim
Teu corpo de ouro no fim de tarde:
Teu corpo que arde dentro de mim
Que ardo contigo no fim da tarde"
(Manuel Bandeira)
“Nada ficou no lugar
Eu quero quebrar essas xícaras
Eu vou enganar o diabo
Eu quero acordar sua família...
Eu quero quebrar essas xícaras
Eu vou enganar o diabo
Eu quero acordar sua família...
Eu vou escrever no seu muro
E violentar o seu gosto”
E violentar o seu gosto”
(Adriana Calcanhoto)
Não confunda, porém, o
eu-lírico com o próprio poeta. Aprenda com Fernando Pessoa que:
O poeta é um fingidor.
Finge tão
completamente
que chega a
fingir que é dor
a dor que
deveras sente.
Ou seja, as emoções e sentimentos expressos num poema lírico são filtrados
pelo poeta e recriados através da linguagem. Por isso, não é correto dizer: “O
poeta fala de sua tristeza”. É mais
exato e próprio afirmar: “O eu-lírico fala de sua tristeza”.
No gênero lírico, “o que interesse é a emoção representada. A natureza, o
mundo exterior, pode aparecer como símbolo de um estado de alma, de um
sentimento qualquer”.
“Os poemas líricos
popularizaram-se tanto através do tempo que, para a maioria das pessoas,
tornaram-se praticamente sinônimo de poesia. Isto é, quando se pensa em poema,
pensa-se em poema lírico.
“No entanto, lirismo –
sentimento lírico – não se encontra apenas em poemas.(...) Há lirismo num
conto, num romance, numa foto. O lirismo destaca-se em todas as formas de
linguagem em que predomine o caráter emotivo da mensagem, até mesmo em obras
onde não se apresente um eu-poético. Portanto, pode haver momentos de lirismo
em criações de gênero épico, dramático ou narrativo.”
·
Gênero Épico: Nesse gênero, há presença de um narrador que fundamentalmente conta a
história passada de terceiros. Isso implica certo distanciamento entre o
narrador e o assunto tratado, coisa que não ocorre no gênero lírico. Os verbos
e so pronomes quase sempre estão na terceira pessoa, porque se trata “dele” ou
“deles”. Além disso, os textos épicos pressupões a presença de um ouvinte ou de
uma plateia, que estariam escutando o narrador.
Os textos épicos são geralmente longos e narram histórias
de um povo ou uma nação, envolvendo aventuras, guerras, viagens, gestos
históricos, etc. Normalmente apresentam um tom de exaltação, isto é, de
valorização de seus heróis e seus feitos.
Os poemas épicos entitulam-se epopeias (epos = verso + poieô = faço). Abaixo, um exemplo de epopeia:
“Cessem do sábio grego e do troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre lusitano,
A quem Netuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.”
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre lusitano,
A quem Netuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.”
(Camões)
·
Gênero Dramático: Trata-se
do texto escrito para ser encenado no teatro. Nesse tipo de texto, não há um
narrador contando a história. Ela “acontece” no palco, ou seja, é representada
por atores que assumem os papéis das personagens. Todo o texto se desenrola a
partir de diálogos, obrigando a uma sequência rigorosa das cenas e de suas
relações de causa e consequência.
Quando o texto
literário é encenado, a linguagem verbal combina-se com não-verbal (gestos,
expressões fisionômicas, etc.).
Existem vários
tipos de textos pertencentes ao gênero dramático:
- a
tragédia: De origem clássica, seu objetivo principal era
inspirar medo e compaixão aos que a assistiam, através da exposição de cenas de
grandes feitos de virtude ou de crime, além de desgraças e infortúnios,
castigos e traições. Acreditava-se que, por meio da tragédia, se “purificavam”
os sentimentos;
- a comédia:
Tem sua origem nas festas de honra ao deus Dionísio (Baco); é voltada a
provocar riso através de contrastes. Tem por objetivo criticar o comportamento
humano através do ridículo;
- a tragicomédia: mistura da tragédia e da comédia, em que ocorrem acontecimentos tristes,
mas o desfecho é feliz;
- o drama:
Espécie de modernização da tragicomédia, em que se alternam momentos de alegria
e de dor;
- a farsa: Representação mais leve, em que se ridicularizam costumes ou elementos
da sociedade, apelando para a
caricatura;
- o auto:
composição dramática, com argumento geralmente bíblico, burlesco[1] e
também alegórico[2]. O auto constitui uma das
formas mais populares do antigo teatro português.
No entanto, há ainda a concepção moderna de arte, que substitui
o gênero épico pelo narrativo, de caráter mais amplo.
·
Gênero Narrativo: Na
atualidade, passou-se a chamar de gênero narrativo ao conjunto de obras em que
há narrador, personagens e uma sequência de fatos. Abrange várias modalidades
de textos em que aparecem os seguintes elementos:
§ Foco narrativo: presença de um elemento que relata a história como participante (narrativa em 1ª pessoa), ou como observador (narrativa em 3ª
pessoa). Alguns autores observam, ainda, que o narrador pode ser também onisciente, quando, apesar de não
participar diretamente da história, conhece até mesmo o pensamento das
personagens.
§ Enredo: É a sequência de fatos, podendo seguir a ordem cronológica em que eles ocorrem (sucessão temporal dos
fatos), ou a ordem psicológica
(sucessão de fatos segundo as lembranças ou evocações das personagens,
apresentando, muitas vezes, flashbacks,
ou volta ao passado).
§ Personagens: Seres criados pelo autor com características físicas e psicológicas
determinadas, na maioria das vezes.
§ Tempo e Espaço: O momento e o local em que os fatos são narrados e onde se desenrolam.
§ Conflito: Situação de tensão entre elementos da narrativa.
§ Clímax: A situação criada pelo narrado vai progressivamente aumentando sua
dramaticidade até que chega ao clímax,
o ponto máximo.
§ Desfecho: Momento que
sucede o clímax, no qual se finaliza a história e cada personagem se encaminha
para o seu “destino”.
Ao gênero narrativo pertencem as seguintes modalidades de textos:
o O Romance: Foi principalmente por influência francesa que em Portugal e no Brasil
se passou a dar o nome de Romance ao
gênero que os escritores portugueses denominavam “novela”, antes do século XIX.
Somente nas narrativas modernas é que o romance
alcançou seu pleno desenvolvimento. Caracteriza-se por conter:
-
Narrativa longa;
-
Enredo complexo;
- Um
ou vários conflitos das personagens.
Conforme o conteúdo, os romances classificam-se em históricos, policiais, regionais, de costumes,
etc.
o A Novela: A novela diferencia-se do romance não pelo número de páginas, mas pela
técnica de composição. A novela nada mais é do que a condensação dos elementos
que formam o romance:
- Diálogos breves;
- Sucessão de conflitos, vistos com mais superficialidade do que no
romance; a um conflito principal agregam-se outros de menor importância e que
com ele não têm relação direta;
- O enredo não traz complexidade;
- O tempo e o espaço estão conjugados dentro da estrutura novelesca;
- As narrações e as descrições são condensadas, encaminhando-se logo para
o desenlace da história.
o O Conto: O conto, por ser breve e simples narrativa é um gênero muito cultivado.
Apresenta as seguintes características:
- Tem mais brevidade dramática do que o romance e a novela;
- Poucos personagens intervêm na narrativa;
- Cenários limitados, espaço restrito;
- Espaço de tempo curto;
- Diálogos sugestivos que permitem mostrar os conflitos entre as
personagens;
- A ação é reduzida ao essencial, há um só conflito;
- A narrativa é objetiva; por vezes a descrição não aparece.
o A Crônica: É um gênero literário que se originou no século XIX. Este gênero trata
de fatos do dia a dia. Quando há uma narrativa, a ação é rápida, sintética.
Há vários tipos de crônicas: humorísticas ou
melancólicas; outras primam pela crítica social e algumas apresentam, ainda,
profundos ensinamentos sobre o comportamento.
o Outros Gêneros: O apólogo e a fábula foram gêneros narrativos muito
cultivados pelos clássicos. Vejamos as características desses gêneros:
No apólogo:
-
as personagens são seres inanimados;
- tem por objetivo um ensinamento moral.
Na fábula:
- a história envolve a vida de animais;
- apresenta, como o apólogo, uma lição de moral.
- apresenta, como o apólogo, uma lição de moral.
Antes do Romantismo, a fábula era um gênero poético.
[2] Obra
artística ou literária, que oferece uma coisa para sugerir outra.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
CASTRO, Maria da Conceição. Língua e Literatura. Vol. 1. 5ª Ed. – São Paulo: Editora Saraiva,
1998.
PAULINO, Graça. Literatura:
participação e prazer. Ed. ver. e ampl. – São Paulo: FTD, 1988.
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